Há um tempo, eu estava querendo comprar uma parafusadeira. Fui ver os preços e eles saltaram! Então eu vi umas parafusadeira “baratas”, baratinhas e muito baratas. Hummm, eu sei o país em que vivo. Algumas até eram convidativas, mas será que valiam a pena? Fui ver umas resenhas, e tudo o que vi era que apesar de serem chinesas, eram lindas, maravilhosas e perfeitas. Prestando atenção, diziam sempre a mesma coisa. Nenhum defeito? Não vem com essa, amiguinho!
Eu me lembrei como era nos tempos que blogs de tecnologia existiam e falavam maravilhas dos Netbooks, como os EeePC da Asus, e mais tarde os Chromebooks. Mesmo modus operandi.
Vamos falar primeiro do EeePC, uma linha de netbooks (netbook: notebooks só para acessar a internet)) da Asus que atraiu muita atenção em 2009 pelo seu design simples, pequeno e que prometia fazer tudo o que a maioria das pessoas fazia num PC: navegar pela Internet e suíte Office (seja lá qual for). O modelo em questão era o 1000HA, cuja configuração era:
-
Processador: Intel Atom N270
-
Memória: 1GB (podendo ser expandido para 2GB)
-
HD: 160GB
Vinha com 3 portas USB 2.0, uma saída para VGA, wifi, Ethernet 10/100, Webcam 1,3 megapixels e monitor 1024×600. Sim, tinha leitor de cartão e saída para caixa de som e microfone externo.
Mais ordinário que bonito.
Agora, a maravilha: essa gracinha singela e diminuta custava cerca de 1250 reais; o que, em valor corrigidos, daria em R$3.568,02. Sim, você leu certo. O salário-mínimo da época era R$465,00 (hoje é R$1212,00). Ainda está achando vantagem? Muitos acharam, e por uma tranqueirinha que todos os blogs de tecnologia e reportagens apontavam como a 8ª maravilha do mundo, e muita gente concordou e adorou quando tiraram da loja.
Até que começaram a usar.
O troço era lento, desconfortável, péssimo e incapaz de rodar qualquer coisa minimamente decente naquele Atom maldito.
O EeePC começou com o modelo 701, lançado em 2007, tendo este “nome” por causa do seu monitor de 7 polegadas (meu atual celular tem 6 polegadas), vinha com o indefensável Xandrox Linux, o que fazia daquela max-tosqueira um (não tão) belíssimo peso de papel. Todos os veículos de mídia especializada evocaram as maravilhas do dispositivo e vendeu muito, então, as pessoas viram a bagaça que tinham comprado e queriam, com muita razão, um monitor maior e um SO de verdade (não é uma questão de ser contra o Linux, é que aquela distro era uma bosta, mesmo!). Vieram os modelos 901 e, por fim, o 1000HA, que parou com a frescura de colocar uma versão Linux péssima e licenciou o Windows XP versão Home Edition (e nisso vieram outros problemas).
O 1000HA tinha monitor de 10 polegadas, que alguns juraram ser excelentes para usar, mas há uma diferença entre usar um tablet de 9.8 polegadas (como o iPad), um tablet de 7 polegadas (como muitos tablets da Samsung) e o EeePC: a forma como você usa. Normalmente, um tablet e/ou celular você usa segurando com as mãos, próximo aos olhos. Um netbook no máximo fica no colo, já que aquilo não tem ergonomia para você segurar com uma das mãos e digitar com a outra.
Netbooks inundaram as lojas e foi muito comprado, até que as pessoas perceberam que tinham caído numa armadilha. A armadilha feita pelos departamentos de Marketing e os veículos de mídia de sua confiança. Inicialmente, era instalado aquela distro capenga do Linux por ser leve o suficiente para dar conta do processador limitado. Ao colocar o WinXP, vinha tudo excelente, mas se você é do tempo do XP pré-SP2, sabe a tranqueira que ele era, tendo herdado as idiossincrasias do Win98 e ME.
Quando pessoal viu a tranqueira que tinham comprado, deixaram o EeePC na estante e foram comprar um notebook de verdade. Os Smartphones estavam se popularizando, ainda que as telas não fosse grandes. No final, abriram mão do hardware levinho para algo que efetivamente funcionava.
Tempo passou e veio o Google. O Google é aquela empresa tipo a Apple: tem produtos bons e originais. O que é bom não é original, o que é original não é bom. Google é com os serviços de Internet como a Apple é com hardware: tudo capado que você usa porque sei lá, já que tem opções muito melhores no mercado, mas nome vende, e é disso que vive o Marketing, que sai mais barato do que desenvolver produto que presta.
Parênteses. Atualmente, as empresas aprenderam que é melhor investir só em Marketing. Fecha parênteses.
Na filosofia “vou prender todo mundo no meu ecossistema”, Google lançou os Chromebooks, com a mesma promessa dos netbooks: notebooks baratos com SO leve para que todo mundo usa o que realmente precisa. Obviamente, Google (assim como Apple) diz o que você precisa, e é para usar aquilo, ou cale-se!
De novo, a mídia especializada fala maravilhas daquilo, mas olhando pela luz fria da Realidade, o que se vê é um hardware de celular rodando um navegador. Sim, isso mesmo que você leu: o ChromeOS não é um ChromeOS, é um navegador com um front-end para esconder o que é.
Eu sei, você foi convencido que é uma maravilha, mas qualquer um que usa Chrome sabe a maravilha que é o gerenciamento de memória daquele lixo. Os Chromebooks atuais saem com SSD ao invés de um HD, o que disfarça a lentidão do aparelho, mas e a parte da memória? Isso além de descrições, se não duvidosas, criminosas, passando a perna bonito no consumidor.
Por exemplo, o Chromebook Lenovo 100e, que vem com um Celeron com 4GB de memória RAM e SSD de 64GB, monitor de 11.6 polegadas e SO Windows 10 Pro.
Sim, o título diz que vem com o Windows 10 Pro, mas no quadro geral de especificações, ele diz que vem:
Sistema Operacional Lnux (Linux?). Touchscreen? Styluspen? Alguma coisa errada não está certa. Olhando mais embaixo:
Caveat Emptor. O comprador que se acautele, porque no site da Lenovo, não é falado nada de SO. Pelo contrário, é genérico demais. É dito que você pode usar o Google Play e a ChromeStore. Ou seja, é ChromeOS, mas Google Play é um site para instalar apps no seu celular Android. Diz que roda TinkerCad. Roda mesmo… no site deles, ou então uma extensão do Chrome, mas é uma dor de cabeça usar um processador de texto de verdade ou uma planilha eletrônica decente.
Se você quer escrever receitas para a sua avó, ótimo! Vai lhe servir… mas não espere um word, pois você não terá, já que até um Libre Office consegue ser superior ao Google Docs, e se você faz uma apresentação no Powerpoint e dá de cara com o Apresentações do Google, a sensação é de chorar de raiva. Há tutoriais para instalar Windows ou Linux nos Chromebooks, mas atente-se que é uma gambiarra, e como toda gambiarra, vai funcionar por um tempo, mas não muito.
Eu, particularmente, acho que se é para pagar mais de 1000 reais em algo capado, que é pouco mais que uma máquina de escrever, melhor usar um tablet e um teclado bluetooth (ou adaptador OTG), daqueles que já vem numa capa.
Há muitos navegadores decentes melhores que o Chrome (qualquer um) além de suítes office que são melhores que o famigerado Google Docs, além de opções de drives como o Dropbox e o OneDrive. Ficar na dependência do Google implica o que aconteceu na pandemia, quando ele foi bonzinho e ofereceu para todo mundo o Classroom, com o Meet e tudo incluído, até puxar o tapete e dizer “se quer, pague”. Sim, eu sei que uma empresa não é boazinha, mas não finja ser boazinha.
A Apple tem isso de bom: ela é filha da puta, não faz nenhuma questão de sequer dar a impressão de ser boazinha, só se limitando a dizer que seus dispositivos são fantásticos, lindos, maravilhosos e ótimos, o que já é mentira o suficiente, mas você jamais verá a mídia especializada falando isso. Tudo é ótimo para eles, os usos são fantabulásticos, que nem aquelas parafusadeira e furadeiras Chinesas de marcas que você nunca ouviu falar. Eu, comprei para mim uma Bosch GSR 1000 SMART, que muitas resenhas de canais no YouTube falaram ser ótima (ser, é; não da forma que falam), capaz de meter um parafuso em madeiras mais duras. Fiz o teste num caibro de maçaranduba e a parafusadeira me mandou praticar sexo não-natural com o referido caibro, o que eu tinha a certeza não ser capaz.
Fica a dica: não acredite mais nas resenhas. Enquanto departamento de Marketing mandar pix para o pessoal, vai todo mundo falar bem.
Em outras palavras, são as empresas tratando o consumidor como aquilo que ele realmente é: Um grandíssimo idiota.
CurtirCurtir
Você não entendeu sobre o que é o artigo.
CurtirCurtir
Tenho um ódio gigante do Eee pc! Meu pai comprou um para usar no trabalho, o tanto de bug que essa desgraça dava era fora da realidade, e eu que tinha que arrumar essa bucha varias vezes. Lembro que o sistema operacional dele simplesmente bricava, do nada , ai tinha que reinstalar o sistema todo. Atualmente ele está em uma gaveta e que descanse em paz lá para sempre.
CurtirCurtido por 1 pessoa
Idem as avaliações de software, tem um bocado de “site de tecnologia” (outdoor online hihihi) que recomenda antivírus chinês hahahaha
CurtirCurtido por 1 pessoa
Pingback: Como escolher as peças pro seu novo computador – Caderno de Informática